15/02/2013

BrasilAS TRÊS FALAS DO PAPA
O pontífice Bento XVI, exortou os cristãos a viverem o cristianismo com intensidade e valores

IVES GANDRA MARTINS,
Membro do Conselho Superior da Associação Superior de São Paulo (ACSP), Professor Emérito da Universidade Mackenzie e das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), Superior de Guerra (ESG) - Brasil


O pontífice Bento XVI, em três momentos diferentes, exortou os cristãos a viverem o cristianismo com intensidade e valores. No dia 11, ao renunciar ao papado, demonstrando, com humildade, o desapego a quaisquer gloríolas humanas e abrindo espaço para um sucessor com mais forças físicas do que ele assumir; mostrou no dia 13, na cerimônia da Quarta-Feira de Cinzas, que o seguidor de Cristo não deve se dividir em variadas posições doutrinárias, ou seja, deve ser um ser humano “de uma peça só”. Por fim, no dia 14 de fevereiro, com muito bom humor, falou com os sacerdotes sobre a missão da Igreja no mundo e a necessidade, sem perda de valores, de estar sempre atualizada.

A esmagadora maioria dos que examinaram as três falas do papa, na mídia, por acostumados a tratar com o poder humano, interpretaram-nas como se fossem manifestação de um político cuidando do poder temporal e, por isto, não perceberam a transcendência das falas papais. Não perceberam também a dimensão real da mensagem de Bento XVI e, portanto, sua análise, para dizer o mínimo, foi equivocada, quando não preconceituosa.

Nós, os católicos, vimos, todavia, tais manifestações, no patamar em que foram feitas e, portanto, vislumbramos humildade e desapego na primeira, exortação à unidade da Igreja na segunda e, na terceira, a certeza de que o Espírito Santo inspirará o novo papa, que, como todos os papas, introduzirá o seu toque de modernidade próprio da época em que viver.

Quem pretendeu ver na renúncia apenas uma luta humana pelo poder engana-se profundamente. Quem tiver visto o poder de Deus, outorgado a seu vice-rei na terra, compreendeu o gesto papal, na medida em que governa uma Igreja para 1 bilhão e 200 milhões de almas espalhadas por todo o mundo, e tal governo exige um vigor que os problemas de saúde já não lhe permitem, inclusive a artrite e os problemas de quadris, joelhos, tornozelos, que tornam todas as inúmeras cerimônias que é obrigado a presidir, a autênticos calvários. Como sofro, com oito anos menos, de idênticos problemas de saúde, sei quão dolorosa é a missão papal e quão difícil é permanecer em pé por muito tempo.

Os católicos devem, portanto, agradecer pelo fantástico legado de Bento XVI e ter confiança de que o Espírito Santo inspirará a eleição do novo papa. Ele será recebido pela comunidade cristã, com o mesmo carinho que sempre devotou a todos os pontífices.

Esta é a única verdade. O resto é especulação sobre poderes temporais, que se aplicam a todos aqueles que querem o poder humano (veja Minha breve teoria do poder, Ed. Revista dos Tribunais), mas não se aplicam à Santa Sé.

Jornal do Brasil, 15 de fevereiro de 2013