30/09/2012

"É urgente que as autoridades reconheçam o papel do franchising como fator de alavancagem do tecido empresarial" - Portugal

Depois de vários anos à frente do Instituto de Informação em Franchising, Andreia Jotta cedeu o lugar a Carlos Santos. A VE entrevistou o novo diretor do IIF, para conhecer as prioridades da organização e os desafios com que o franchising nacional se depara.
Vida Económica - Em termos de estratégia e posicionamento em relação ao franchising, nomeadamente no que toca à realização das feiras de Lisboa e Porto e do Franchise Roadshow, quais as alterações que se farão sentir?

Carlos Santos - A promoção do franchising como modelo de negócio e a divulgação de marcas e conceitos junto de empreendedores será sempre a missão e o posicionamento do IIF. A estratégia definida para 2012 no que se refere aos eventos promovidos pelo instituto baseia-se na concentração da feira num único certame nacional em Lisboa, tendo em consideração a conjuntura atual que dificulta a presença de marcas em duas feiras. Por outro lado, verificámos que existia um grande potencial noutras áreas geográficas do país, que normalmente são esquecidas na agenda dos eventos empresariais, mas que no entanto correspondem às necessidades de expansão das marcas. Desta forma nasceu o Franchise Roadshow, com ações já realizadas em Faro, Coimbra, Évora, Castelo Branco e Braga, estando já agendadas as ações em Viseu (13 de Outubro) e no Porto (17 de Novembro). Esta estratégia deverá manter-se em 2013, ou seja, um certame nacional em Lisboa, e o Roadshow em diferentes cidades do país, de acordo com a estratégia de expansão das marcas. Face ao cenário económico atual, estão a ser estudadas algumas alterações ao evento em Lisboa com vista a aumentar o potencial de negócio para as marcas. Uma vez que estas ainda estão em fase de análise, ainda não me é possível avançar com mais informação sobre este assunto.

VE - Que leitura faz do estado atual do franchising em Portugal, tendo em conta a presente conjuntura económica?

CS - Praticamente todos os setores económicos têm vindo a ser penalizados pela conjuntura atual, e o franchising não é exceção. Com a escassez de fontes de financiamento, os baixos índices de poupança e de consumo, tem resultado numa maior dificuldade de expansão e de sustentabilidade das marcas. Felizmente, temos empresários resilientes que, apesar destes grandes obstáculos, têm conseguido gerir a sua rede, ajustando conceitos, aumentando o apoios aos seus franchisados, para fazer face a esta conjuntura. O desemprego, se por um lado contribui para a baixa do consumo, por outro lado, leva a que desempregados com perfil empreendedor procurem neste modelo de negócio uma oportunidade. Procuram sobretudo oportunidades de negócio de baixo custo. É urgente que as autoridades oficiais reconheçam este papel do franchising como um importante fator de alavancagem do tecido empresarial nacional e apresentem medidas de financiamento adequadas às necessidades atuais do sector, que, repito, são essenciais para a economia do país. Escassas alternativas de financiamento.

VE - Que aspetos considera que atualmente mais preocupam os empresários do franchising - dificuldades de financiamento (quer de investidores, quer dos próprios empresários em termos de tesouraria), saturação de alguns conceitos em determinados setores?

CS - Sem dúvida que a falta de financiamento é a principal preocupação dos empresários de franchising. Os franchisadores facilmente encontram empreendedores com perfil para avançarem com o negócio; no entanto, a capacidade económica dos mesmos é muito reduzida e as fontes de financiamento são escassas. Outra grande preocupação destes empresários incide na sustentabilidade da rede de franchising. A descida no índice de consumo por parte de particulares e das empresas tem obrigado os empresários a relegarem a expansão para um segundo plano e orientar a sua atenção para a gestão das unidades existentes. Existem também alguns conceitos por uma questão de tempo, ou pelo facto de terem proliferado de uma forma exagerada, que agora se esgotam, o que não quer dizer que tenham desaparecido, mas restam os que melhor se souberam impor no mercado.

VE- As alternativas ao financiamento muitas vezes apontadas (IEFP, capital de risco, outras) constituem-se como reais no franchising, seja na abertura de novas unidades, seja na perspetiva de internacionalização das marcas nacionais?

CS - Como já referi, as fontes de financiamento, face à ausência da banca como financiador, são poucas. Os programas do IEFP, o capital de risco, o microcrédito e alguns programas em vigor em algumas regiões do país são de facto oportunidades para a criação de novas unidades de franchising, no entanto, têm uma capacidade limitada se a compararmos à capacidade anterior da banca. Por exemplo, alguns empresários têm conseguido avançar com unidades franchisadas através do resgate antecipado do fundo de desemprego, sobretudo em setores de negócio de baixo custo.

A necessidade de inovar

VE - Que leitura faz a associação da proliferação de conceitos de baixo custo? Considera tratar-se de um ajustamento necessário do mercado ou uma canibalização das próprias marcas?

CS - É sem dúvida um ajustamento necessário ao mercado e não considero canibalização, até porque, no franchising, o limite territorial do negócio normalmente está contratualmente bem definido. Ultimamente, muitas marcas têm optado por ter duas modalidades do negócio, uma mais completa ou "premium" e outra que inclui os serviços base da marca, ou seja, uma versão "low-cost". Oferecem desta forma duas possibilidades de negócios consequentemente com diferentes necessidades de financiamento e ajustada a diferentes mercados.

VE - De que forma pode a inovação contribuir para o dinamismo do franchising, seja através de novos conceitos, seja do próprio modelo de expansão?

CS - A diversidade de conceitos de franchising existente impõe um maior grau de diferenciação e inovação, que implicam a criação de novos produtos ou serviços oferecendo um leque completo de soluções. Aliás, uma das grandes vantagens deste modelo de negócio em parceria, para além do menor risco comparativamente a outros formatos, é o facto de a sinergia entre franchisadores e franchisados potenciar a inovação de soluções. As marcas também têm demonstrado a sua capacidade de inovar na gestão da expansão da rede, para se ajustarem ao mercado. Um exemplo é o desenvolvimento de mais do que uma modalidade, como referi anteriormente.

Portugal tem forte capacidade para desenvolver novos conceitos

A progressiva internacionalização de conceitos nacionais tem-se revelado um fenómeno interessante no franchising português. Para Carlos Santos, "embora sejamos um mercado pequeno, a capacidade de desenvolver conceitos de negócio em franchising em Portugal é enorme, mesmo comparando com economias maiores que a nossa". Na sua opinião, "a isto não será indiferente a capacidade e engenho dos empreendedores nacionais, que ao longo do tempo têm sabido tirar partido do modelo de negócio em franchising, lançando conceitos que funcionam em qualquer parte do mundo".

Estes modelos caracterizam-se sobretudo "pela já falada inovação e a capacidade de adaptação a diferentes mercados", considera. A esta capacidade de criação "alia-se o nosso caracter aventureiro, que desde há séculos nos leva a "navegar" em busca de novos mercados".

Segundo o Censo do Franchising 2012, são 72 as marcas nacionais com presença externa.

Fonte: Torno

Divulgação: CIC – CENTRO INTERNACIONAL DE CULTURA